Olá, meus queridos. Que saudade!

Trago-lhes e compartilho com todos hoje mais um dos trabalhos da faculdade, que acredito ser de serventia para os próximos anos.

A Feira do Livro de São Borja deste ano aconteceu no mês passado, e para relembrar a história deste importante evento na cidade meu grupo de trabalho da disciplina de Agência de Notícias I, sob orientação do prof. Leandro Comasseto, fez uma pesquisa de resgate histórico.

Acompanhem a seguir o texto, seguido do PDF(versão para impressão) e áudio de pontos marcantes, que estarão disponíveis também na Biblioteca Pública de São Borja e na Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Eventos(SMTCE). Confiram ainda uma entrevista com o poeta Rodrigo Bauer.

Boa leitura! Apreciem sem moderação ;)


Das volantes aos estandes
Memória e consolidação da Feira do Livro de São Borja
Por Alane Braga, Paulo Messa e Rogério Savian

  No início, apenas um sonho. A atual estrutura não lembra nem de perto a composição simples e muitas vezes precária das bancas de madeira cobertas com telhas ou sobre volantes (estrutura móvel). As poucas livrarias da época eram as responsáveis pela exposição das obras no evento que dava seus primeiros passos marcando o início de uma história de dificuldades.

A Praça XV de Novembro, que é cenário para muitos eventos da cidade, além de abrigar a história política da ‘Terra dos Presidentes’, serve de palco há 32 anos para o encontro da comunidade com a arte, cultura e literatura em São Borja. Apesar de uma longa trajetória, sempre houve insegurança sobre a realização do evento que só em 2010 se consolidava como anual e obrigatório no município. Através da Lei nº 4.180, de 12 de janeiro de 2010, criava-se oficialmente a Feira do Livro de São Borja.


O começo de tudo

Foto: Arquivo Biblioteca Municipal
Conforme registros oficiais, em 1979 a primeira Feira do Livro se solidificava em São Borja. Apesar de manifestações anteriores já demonstrarem interesse da população em criar o evento, só nesse ano, de 14 a 20 de setembro, com o objetivo de oferecer à comunidade uma feira de livros, o livreiro Luis Carlos Lopes e os acadêmicos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Borja (FAFISB), levaram a idéia ao prefeito Salvador Leôncio Pereira Alvarez. 

Um dos primeiros participantes como expositor, Marcos Leipnitz, recorda que a proposta inicial da feira foi apresentada por sua mãe Donatila Leipnitz, em parceria com o livreiro Luiz Carlos Lopes. Ele ainda lembra que a Feira ocorria paralelamente a outro evento: “Me recordo que eu estava aqui em São Borja. Tinha 17 anos. As bancas eram em forma de volantes. Inclusive era na semana do município, dia 10 de outubro. Tinham outras atividades na praça.” Nesse mesmo ano, foi realizada a I Gincana Cultural Comunitária - evento onde grupos disputavam realizando várias atividades artístico-culturais. As competições eram divididas em várias tarefas, dentre elas a apresentação de poemas de autores da cidade, como Apparício Silva Rillo (Box Bio). Cerca de 1500 volumes foram expostos na Praça XV, com obras de gêneros variados, apresentadas em bancas armadas pela prefeitura.


A identificação

Na década de 80, apesar da carência na estrutura, organização e programação, o evento apresentava novidades, entre elas a participação de artistas locais, atividades culturais e principalmente sessões de autógrafos. A literatura infantil teve destaque na II Feira do Livro, em 1980, de 25 de outubro a 1º de novembro com ‘Cri-Cri o Grilo Gaudério’, a obra mais procurada de autoria de Jerônimo Jardim. Já o público adulto pode contar com o destaque do romance ‘Dona Petrona Carrasco’, de Valter Sobreiro Junior. No ano seguinte, a terceira edição do evento superou as expectativas de vendas e adquiriu caráter permanente, tendo como suas atrações shows artísticos e culturais; entre os livros mais vendidos o destaque foi para “Viagem ao tempo do pai”, de Apparício Silva Rillo.

Enchente de 83 no Passo, em São Borja
(Foto: O Infoscópio)
Na primeira dezena do mês de outubro de 1982, ano do tricentenário da cidade, foi inserida ao evento a comemoração do padroeiro, São Francisco de Borja. Os proprietários das livrarias ‘A Preferida’ e ‘Nova’ levaram os livros à praça, onde aconteceu também a IV Gincana Cultural. Nesse ano, a Feira do Livro foi marcada pelo relançamento de escritores são-borjenses, com comercialização de livros satisfatória. Já em 1983, devido a uma das maiores enchentes da história de São Borja - quando o rio Uruguai atingiu 19 metros acima do nível normal, deixando cerca de 5 mil pessoas desabrigadas - a Feira do Livro não incidiu. Um ano depois, na quinta edição, as obras mais procuradas foram da literatura gaúcha e infanto-juvenil. Em 1985, de 5 a 10 de outubro, o evento contou com atividades culturais e artísticas apresentadas pelos alunos das escolas estaduais. Música ao vivo, danças a cargo do Centro Nativista Boitatá, serenata e recital de poesias reunindo os alunos da FAFISB, movimentavam a 6ª edição, quando a feira era realizada juntamente com as dezenas de comemorações ao aniversário do município além de exposição de arte no plenário da Câmara de Vereadores. “Ler: Condição para ser e viver melhor” era o slogan.

Silva Rillo(ao centro) em sessão de autógrafos
durante uma das edições da Feira
(Foto: Arquivo Biblioteca)
Os livros  eram levados à praça para a 7ª edição em 1986, sendo que o mais vendido foi “Apparício Silva Rillo, 30 anos de poesia”. A comissão organizadora realizou campanha junto à comunidade para obter doações de livros. Em 1987, além das tradicionais sessões de autógrafos também foram proferidas palestras durante o evento. Nesse ano reuniam-se artesãos, vendedores e barracas de lanches em geral. A feira passou a ser inserida na programação da ‘Dezena’, quando havia comemorações do aniversário do município. O Slogan da 8ª edição foi “Ler faz pensar grande”.

Dos dias 2 a 9 de outubro de 1988, os livros técnicos tiveram boa aceitação na 9ª edição. O evento contou com a participação de um vendedor de livros usados. Nesta feira foram vendidos cerca de 2 mil livros. A literatura infanto-juvenil foi a mais procurada. No ano seguinte, a 10ª edição realizou a I Mostra de Cartoons e Charges do Centro Cultural com o slogan “É preciso investir na cultura”. O ano registrou a volta da Gincana Cultural Comunitária.


A expansão

Ao longo dos anos a estrutura das bancas foi modificada
(Foto: Arquivo Biblioteca)
Os anos 90 foram marcados pela vinda de atrações de fora do estado e apresentações artísticas de Santo Tomé, Argentina. A presença de escritores locais e argentinos que palestraram e autografaram suas obras também foi destaque. Na 11ª Feira do Livro, foram comercializados os mais variados tipos de obras, destacando-se as regionalistas e infanto-juvenis. Em 1991, a presença de quatro expositores locais e duas sociedades espíritas, juntamente com os autores Sérgio Farraco, Apparício Silva Rillo, Valesca de Assis e Fernando O’Donell, enriqueceu e inovou a Feira. Em 1992, shows musicais e apresentações de teatro se destacaram na 13ª edição.

O mau tempo interrompeu a realização da feira em 1993, as sessões de autógrafos foram transferidas para a Câmara de Vereadores, mas apesar do transtorno a edição foi reaberta e a comercialização foi boa. Em 1994, comemorando quinze anos da Feira, foi realizada a Maratona do Livro, a qual consistia em premiar os três estabelecimentos de ensino que recebessem maior número de indicações dos adquirentes de livros. A 16ª edição destacou-se com a participação de crianças, que foram as maiores compradoras de livros. Nesse ano, foi novidade da Feira a demonstração de CD-ROM sobre a literatura do Rio Grande do Sul, com o slogan “Venha descobrir o mundo”. Cerca de 500 obras foram expostas. Já em 1996 a feira teve outras atrações como a apresentação de minissérie e documentário.

As sessões de autógrafos sempre foram atrativo
(Foto: Arquivo Biblioteca)
Após a ausência de uma edição, o evento volta a ser realizado no período de 21 a 25 de maio de 1998, inserindo em sua programação a I Feira do Livro do MERCOSUL, quando foi firmado convênio entre o Centro Cultural de São Borja, a Casa de Cultura de Santo Tomé e New World Institute de Whashington. No ano seguinte, junto à 19ª edição, foi realizada a II Feira do Livro do MERCOSUL - evento que foi coordenado pelo Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), 35ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e Universidade da Região da Campanha (Urcamp). Nessa feira foi lançada a obra de Rodrigo Bauer “Alma Tapera” (poesia) e, de Daniel Kraetig, o livro “Pensar e fazer Pensar”. 
Durante os quatro anos seguintes a comunidade são-borjense conviveu com a ausência da Feira do Livro. 



Pausa e recomeço na nova década

     De 2000 a 2004 a Praça XV de Novembro deixou de receber os livros, que só voltaram em 2005, dos dias 29 de setembro a 2 de outubro, com a 20ª edição. O tema foi “Leitura e conhecimento, construindo cidadania”, e ali eram disponibilizados aproximadamente 12 mil títulos, destes 2.900 foram vendidos em 13 bancas de livro. Em 2006 a feira foi marcada por inúmeras novidades. Na 21ª edição o evento recebia a participação da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) que se instalava no município. Além de pesquisa histórica do evento e edição do boletim informativo ‘FeLivro Informa’(foto), os estudantes do curso de Comunicação Social - Jornalismo também criaram a Rádio Feira. A arte gráfica foi produzida pelos acadêmicos de Publicidade e Propaganda. Na ocasião houve homenagem-póstuma ao idealizador da feira Luis Carlos Lopes, tendo como tema “Leitura e conhecimento, construindo cidadania”.


     De 2007 a 2009 as edições da feira tiveram continuidade com a participação de escolas, artistas locais e apresentações artístico-culturais. Em 2010 uma novidade, após a assinatura de um decreto pelo então prefeito em exercício Jeferson Olea Homrich, tornou-se obrigatória a realização da Feira do Livro de São Borja todos os anos no mês de outubro, além de oficializada a logomarca do evento, pelo Art. 1º da lei nº 4.254 de 09 de julho de 2010.

Representação simbólica de um indivíduo que sugere
estar levantando um livro como se fosse um
troféu demonstrado em sinal de vitória, representando
o conhecimento proporcionado pela leitura
que levamos no decorrer de nossa vida.

Segundo o ex-diretor do DAC, Deco Almeida, que atuou nas duas últimas edições da Feira do Livro, as maiores dificuldades para a realização sempre foram em conseguir apoio financeiro, ressaltando ainda que “o principal objetivo do evento sempre foi valorizar o pessoal que trabalhou por São Borja, como poetas, escritores e músicos.”


Uma edição de muitas atrações

Viviane Pimenta, diretora de Cultura da SMTCE
(Foto: Paulo Messa)
Neste ano, São Borja recebeu a 26ª edição da Feira do Livro, entre os dias 26 e 29 de outubro. Segundo a Diretora de Cultura da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Eventos (SMTCE), Viviane Pimenta, o diferencial deste ano foi a presença de autores de outras cidades, que participaram de sessões de autógrafos. Como forma de atender a todos os públicos mostrando à comunidade a importância do evento, houve atenção especial no planejamento. Nesta edição, estiveram presentes autores como Ronaldo Colvero, Juremir Machado, Cristóvão de Almeida,  Maria Isabel Scalco, Thedy Correa, Marcelo da Silva Rocha e Valdi Ercolani. 

Além da presença dos autores, fizeram parte da programação peças teatrais, apresentações musicais e outras demonstrações de arte relacionadas à literatura.

Algumas alterações no local de realização da feira deste ano foram feitas para acomodar toda a programação, que foi transferida para frente da prefeitura, na Avenida Aparício Mariense. Uma das inovações nesta edição foi a possibilidade de utilizar o Vale Livro - programa que contempla 600 alunos do município, com um bônus de R$10,00 que pôde ser utilizado na aquisição de livros. 

Viviane Pimenta destaca que houve um crescimento significativo em relação às edições anteriores e que em função da chuva, no último dia, a programação sofreu alterações, sendo que as atrações foram canceladas e apenas as sessões de autógrafos e alguns estandes para comercialização de livros se mantiveram abertos.

O público prestigiou a 26ª Feira do Livro de São Borja em frente a Prefeitura Municipal
(Foto: Paulo Messa)

     Para as próximas edições é esperado que a demanda de obras voltadas aos acadêmicos seja vista com mais atenção já que o crescimento do setor universitário é uma realidade no município considerando a presença de instituições de ensino superior e técnico públicas ou privadas.

Rodrigo Bauer
'Nada depende somente da vocação'

Foto: Arquivo pessoal
     O poeta e letrista, Rodrigo Bauer nasceu em São Borja no dia 3 de maio de 1974. Em sua terra natal, começou a escrever seus primeiros versos na escola e a publicá-los aos 15 anos de idade no jornal Folha de São Borja, do qual é colunista até hoje, a convite do poeta Apparício Silva Rillo. Aos 16 anos começou a participar dos festivais nativistas. Publicou quatro livros, o primeiro “Caminhos de mim” foi editado em 1996, o segundo “Magia das Horas” em 1998, o terceiro “Alma Tapera” em 1999 e o quarto “Recomeço” em 2005. Bauer possui músicas gravadas com letras de sua autoria, tendo participação em quatro edições da Feira do Livro de São Borja.


                                                       Entrevista

Memória SB: De onde surgiu seu interesse pela literatura?
Rodrigo Bauer: Desde muito cedo... Sempre me encantou a biblioteca de meu avô e seus livros de poesia.

MSB: Como surge inspiração para a produção de suas obras?
RB: Das coisas e momentos mais variados, desde o cotidiano ao surreal. Não tem hora nem dia estabelecidos.

MSB: Para escrever um livro é preciso apenas ter vocação?
RB: Nada depende somente da vocação. Qualquer talento e inclinação natural devem ser lapidados e enriquecidos com o estudo e a dedicação. Essa regra não tem exceção! 

MSB: Qual o significado de ter suas obras reconhecidas pelo público?
RB: É gratificante e traz muita responsabilidade.

MSB: Qual sua relação com outros poetas são-borjenses?
RB: Devo o meu início e visibilidade aos poetas Apparicio Silva Rillo e José Hilário Retamozo e me considero na obrigação de prestar o mesmo serviço aos novos poetas, bem como tento manter um coleguismo sadio com meus iguais.

MSB: De que forma a Feira do Livro se fez presente na sua vida?

RB: É um momento mágico para qualquer comunidade. A Literatura presente na praça. É presença que lembra o passado, enriquece o presente e projeta o futuro. Desde criança ela faz parte de todos nós.

"Quatro cantos do planeta", letra de Bauer na voz de Shana Muller.


Agradecimentos à Biblioteca Municipal, Rodrigo Bauer e demais colaboradores desta pesquisa.
Confira o arquivo para impressão.

Comentários

Oi!
Se chegaste até aqui não custa nada deixar um comentário, né?
Deixa teu recado, ele é importante pra mim.
Obrigado pela visita. Espero que volte, hein.
Paulo

Postagem Anterior Próxima Postagem